quarta-feira, 12 de junho de 2013

Entrevista ao escritor timorense Luís Cardoso


-Sempre quis ser escritor? Gosta que os críticos se refiram a si como porta-voz da literatura timorense?
Não. Sempre gostei de escrever. Colocaram-me na testa o estatuto de escritor quando as críticas literárias começaram a aparecer de uma maneira positiva com o primeiro livro.

- Porque os seus livros têm sempre a ver com Timor?
Porque neste momento ainda tenho muito para falar sobre Timor. Matéria prima não me falta. Talvez um dia me apeteça falar de outra gente, outra terra. 

-De que coisas tem saudade de Timor?
Da minha infância.

-Poderiam ser os seus livros sejam uma maneira “amável “ de conhecer a história do seu país? Sente-se um pouco historiador da sua pátria?
Não, eu faço ficção. Obviamente arranjo enredos que tenham a ver com a história de Timor.

-Quais são os seus próximos projectos?
Em Julho faço a apresentação do meu último livro em Timor. Preparo-me para esse evento. É a primeira vez que sou convidado pela Secretaria de Estado de Artes e Cultura de Timor-Leste a fazer a apresentação do livro em Timor. Depois dar início ao novo livro que tenho na minha cabeça.

-O que significa para o Luís Cardoso que o seu livro Crónica de uma Travessia seja considerado o primeiro romance timorense?
Nada. Aconteceu apenas por uma questão de oportunidade. Ser o primeiro ou o último não interessa. Foi apenas uma questão de tempo.

-Sendo poliglota, nunca pensou em escrever em outra língua que não fosse o português?
O português é a minha língua de escrita. Aprendi a escrever nessa língua. É nessa língua que me sinto bem quando escrevo. Mas todo o meu imaginário encontra-se em língua tétum. 

-Como é possível que a religião católica coexista com a tradição mágica em Timor sem evocar conflitos?
Os timorenses são essencialmente religiosos e supersticiosos. Creio que no início teve algum conflito dado que a disseminação do cristianismo foi feita a par da colonização. Mas depois os timorenses assimilaram-no sem problemas por motivos que prendem com o facto dos missionários terem tido uma atitude diferente das autoridades administrativas. Abriram escolas em sítios remotos para filhos de nativos.

-Poderia emitir uma opinião sobre o Acordo Ortográfico, que pretende unificar algumas normas ortográficas e gramaticais para os países de língua oficial portuguesa?
O acordo ortográfico é necessário para a uniformização da escrita em língua portuguesa. Mas isso não impede que cada povo a reinvente à medida da sua própria cultura e identidade.

-Gostaria de deixar alguma mensagem para os alunos da EOI?
Não tenho nenhuma mensagem especial senão um grande abraço por me terem recebido sempre com gentileza de todas as vezes em que aí estive como convidado.

-Dentre as suas diversas leituras, poderia dizer que foi influenciado por algum ou alguns autores em particular?
Todos os escritores e todos os livros me influenciaram. Mesmo os maus livros. Se existe um livro que eu gostaria de ter escrito? Certamente a Bíblia. No princípio era o verbo...  
Pesquisa e entrevista por:

Ana Balado, Patrícia Mata, Sabela Morais, Montserrat Natividad, Rosa Rodríguez, María Rodríguez, Nuria Lago (Nível Intermédio)