Não. Sempre
gostei de escrever. Colocaram-me na testa o estatuto de escritor
quando as críticas literárias começaram a aparecer de uma maneira
positiva com o primeiro livro.
- Porque os seus
livros têm sempre a ver com Timor?
Porque neste
momento ainda tenho muito para falar sobre Timor. Matéria prima
não me falta. Talvez um dia me apeteça falar de outra gente, outra
terra.
-De que coisas tem
saudade de Timor?
Da minha infância.
-Poderiam ser os
seus livros sejam uma maneira “amável “ de conhecer a história
do seu país? Sente-se um pouco historiador da sua pátria?
Não, eu faço
ficção. Obviamente arranjo enredos que tenham a ver com a história
de Timor.
-Quais são os
seus próximos projectos?
Em Julho faço a
apresentação do meu último livro em Timor. Preparo-me para esse
evento. É a primeira vez que sou convidado pela Secretaria de
Estado de Artes e Cultura de Timor-Leste a fazer a apresentação do
livro em Timor. Depois dar início ao novo livro que tenho na
minha cabeça.
-O que significa
para o Luís Cardoso que o seu livro Crónica de uma Travessia seja
considerado o primeiro romance timorense?
Nada. Aconteceu
apenas por uma questão de oportunidade. Ser o primeiro ou o último
não interessa. Foi apenas uma questão de tempo.
-Sendo poliglota,
nunca pensou em escrever em outra língua que não fosse o português?
O português é a
minha língua de escrita. Aprendi a escrever nessa língua. É
nessa língua que me sinto bem quando escrevo. Mas todo o meu
imaginário encontra-se em língua tétum.
-Como é possível
que a religião católica coexista com a tradição mágica em Timor
sem evocar conflitos?
Os timorenses são
essencialmente religiosos e supersticiosos. Creio que no início teve
algum conflito dado que a disseminação do cristianismo foi feita a
par da colonização. Mas depois os timorenses assimilaram-no sem
problemas por motivos que prendem com o facto dos missionários
terem tido uma atitude diferente das autoridades administrativas.
Abriram escolas em sítios remotos para filhos de nativos.
-Poderia emitir
uma opinião sobre o Acordo Ortográfico, que pretende unificar
algumas normas ortográficas e gramaticais para os países de língua
oficial portuguesa?
O acordo
ortográfico é necessário para a uniformização da escrita em
língua portuguesa. Mas isso não impede que cada povo a
reinvente à medida da sua própria cultura e identidade.
-Gostaria de
deixar alguma mensagem para os alunos da EOI?
Não tenho nenhuma
mensagem especial senão um grande abraço por me terem recebido
sempre com gentileza de todas as vezes em que aí estive como
convidado.
-Dentre as suas
diversas leituras, poderia dizer que foi influenciado por algum ou
alguns autores em particular?
Todos os escritores e todos os
livros me influenciaram. Mesmo os maus livros. Se existe um
livro que eu gostaria de ter escrito? Certamente a Bíblia. No
princípio era o verbo...
Pesquisa e entrevista por:Ana Balado, Patrícia Mata, Sabela Morais, Montserrat Natividad, Rosa Rodríguez, María Rodríguez, Nuria Lago (Nível Intermédio)
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