terça-feira, 13 de março de 2012

Viagem a Birmânia

A minha estadia em Birmânia está inserida numa viagem de vários meses a outros países da Ásia como o Tibete (China)ou Nepal feita há 9 anos. O último destino foi Birmânia com o tempo máximo de um mês, que é o permitido pela Junta Militar no poder -envolvida em grandes protestos internos e controvérsia internacional.
A primeira observação sobre a viagem seria salientar a dificuldade em conseguir vistos como viajante independente. Na Europa apenas existia uma embaixada deste país localizada em Paris; no meu caso tive que o conseguir na Embaixada de Kathmandu, capital do Nepal, passando uma entrevista pessoal ao vivo. É preciso ser muito cuidadoso e não dizer nada sobre nós que possa indicar que os nossos objetivos sejam jornalísticos ou políticos (se assim for).
Ao chegar ao país tive que cambiar uma quantia de dinheiro numa espécie de vales-dinheiro do governo para me poder movimentar no país (dinheiro posteriormente trocado no mercado negro). De facto é esta uma das maneiras como o governo trata de balançar um relativo boicote de divisas internacional.
Na capital Yangon reparei primeiramente no oásis -para mim- produto da pouca publicidade abafante em ocidente. Além disso, há uma mistura de arquitetura post colonial, budista, muçulmana... É possível observar uma grande comunidade proveniente da Índia, maioritariamente Punjabi.
Gostei muito das pessoas sempre com um sorriso na face e curiosidade por saber o que se passa lá fora. O país nesta altura não tinha Internet nem multibancos e apenas em contados lugares era possível ver as televisões estrangeiras via satélite. Era imposível telefonar para o exterior do país, e toda a música estrangeira (Beatles, Elvis, Sinatra, etc.) era traduzida na língua nacional.
Movimentar-se pelo país não é fácil. Pelo contrário, é muito muito dificultoso, estradas desfeitas, com áreas encerradas mesmo para o próprio governo. Trata-se neste caso de zonas de tráfico de ópio consentido pelo governo, ou guerras sendo a mais conhecida contra as etnias Karem e Shan. Há destinos que apenas e possível lá chegar de avião pela situação dos territórios intermédios.
Birmânia e um desses países que está muito fortemente influenciado culturalmente pelo budismo Theravada, filosofia-religião praticada amplamente no pais. Existe uma extensa rede de templos por todo o país; o mais importante está em Bagom, a norte de Yangom.
É muito difícil resumir tanta coisa que há para ver, mas gostei muito do Lago Inle por um acaso aberto às caminhadas pouco antes da minha chegada. Foi lá que tive contacto com as mulheres girafa. Foi impressionante mas muito triste, esta área, foi como uma viagem no tempo.
Algo que adorei um pouco por todo o país foram os seus céus, a alvorada e o pôr-do-sol: não por acaso a Birmânia é conhecida, desde a passagem de Marco Polo, no século XIII, como a "Terra Dourada" pelo especial da sua luz.
Apenas por mencionar alguns lugares interessantes estaria a pagoda de Shwedagom em Yangom, a cidade Mandaly -do meu ponto de vista uma das cidades mais interessantes de Ásia- os templos de Bagam, O monte Topa... Tive também a oportunidade de observar a desflorestação com elefantes das últimas selvas da muito cotizada Teka da Birmânia, perto da Vila Hsipaw, e tenho de dizer que fiquei impactado e ainda mais sabendo que a madeira ia, após passar pela China, às casas mas requintadas de ocidente.
Gostei muito da gastronomia, adoro a comida asiática mas a de Birmânia junto com a thailandesa são para mim das melhores deste continente.
Gostaria que este escrito desse para despertar a curiosidade por este país que vive com enormes contradições, e que por bons e maus motivos é algo assim como Thailandia cem anos atrás.
Em breve chegará o DVD o filme “the Lady” sobre a vida da opositora Aum Su Ky, que mostra um bocadinho -ainda que focado muito na vida desta grande personalidade- do que se passa com este fascinante país em grande medida fechado para o resto mundo.

Manuel López Rodríguez

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